A ESCOLA QUE QUEREMOS - ANTÔNIO NÓVOA (referência com a disciplina Dinâmica e Organização Escolar)

*Pensamento Novo
*Educação Permanente/Formação de professores
*”Transbordamento”
*Organização do trabalho escolar e “Choque tecnológico”
*Mudança de atitudes: Possíveis soluções

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Pensamento Novo
Nóvoa, “no plano dos espaços e dos tempos, insiste sobretudo em duas dimensões deste pensamento novo
Por um lado, a existência, para além da Escola, de um conjunto de outros espaços e instituições que devem 
assumir as suas responsabilidades educativas. É impossível continuar a exigir que a Escola faça tudo, que ela 
cumpra um conjunto tão vasto de missões. Importa, por isso, clarificar o seu papel na aprendizagem, numa 
aprendizagem especificamente escolar, chamando outras instâncias (sociais, familiares, culturais, religiosas, 
etc.) a participarem na tarefa de educar as crianças e os jovens”.
Por outro lado, “a ruptura com um conceito de formação baseado, fundamentalmente, nos anos da infância e da juventude. Para ele, existe a necessidade de construir um outro “modelo de Escola”. Afirma que continuamos fechados num modelo de Escola inventado no final do século XIX e que já não serve para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo: escolas voltadas para dentro dos quatro muros, currículos rígidos, professores fechados no interior das salas de aula, horários escolares desajustados, organização tradicional das turmas e dos ciclos de ensino, etc. etc”.
Defende que “é necessário repensar os modos de organização do trabalho escolar, desde a estrutura física das escolas até à lógica curricular das disciplinas e dos programas, desde as formas de agrupamento e de acompanhamento dos alunos até às modalidades de recrutamento e de contratação dos professores. Assim, aponta na direção de reinventar a Escola se quisermos que ela cumpra um papel relevante nas sociedades do século XXI. E, jamais se esquecer a importância de nunca renunciar ao conhecimento e à cultura”.


Educação Permanente/Formação de professores
De acordo com Nóvoa, “quando se fala de “educação permanente” (e, pior ainda, de “educação e formação ao longo da vida”), há, por vezes, uma tendência para valorizar certas competências técnicas ou instrumentais em detrimento do conhecimento, da ciência e da cultura. Fala-se do “aprender a aprender”, das capacidades de atualização e de procura autônoma do saber, das competências informáticas e outras. Tudo isto é verdade e deve ser tido em conta. Mas estas aprendizagens não se fazem no “vazio”. Por isso, afirma Nóvoa, que não nos devemos vergar às modas instrumentais e temos de manter uma grande atenção aos conhecimentos e às disciplinas que formam os nossos alunos.
Segundo Nóvoa, “a formação de professores deve: a) assumir uma forte componente prática, centrada na aprendizagem dos alunos e no estudo de casos concretos; b) passar para ‘dentro’ da profissão, isto é, basear-se na aquisição de uma cultura profissional, concedendo aos professores mais experientes um papel central na formação dos mais jovens; c) dedicar uma atenção especial às dimensões pessoais, trabalhando a capacidade de relação e de comunicação que define o tato pedagógico; d) valorizar o trabalho em equipe e o exercício coletivo da profissão; e) estar marcada por um princípio de responsabilidade social, favorecendo a comunicação pública e a participação dos professores no espaço público da educação”.  

Para Nóvoa, “os programas de formação de professores não têm prestado a devida atenção a este aspecto, não têm dado aos professores os instrumentos necessários para a análise das práticas, não lhes têm despertado esta necessidade que vai muito para além de um esforço individual e que insere o conhecimento profissional num esforço de debate e de partilha com os outros”. “A reflexão de cada um sobre o seu trabalho é absolutamente essencial. Mas esta reflexão tem de ser continuada por um diálogo com os colegas, na escola e noutros espaços de trabalho. Insiste que, temos falado muito da formação de professores, mas raramente nos temos interrogado sobre o coletivo docente, sobre essa “competência coletiva” que é mais do que a soma das “competências individuais”... “há um grande isolamento dos professores e as escolas não possuem instrumentos que concedam aos melhores professores um papel de liderança, de supervisão e de coordenação. Por outro lado, porque as políticas educativas nunca se preocuparam em avaliar e estimular o mérito profissional, permitindo o reconhecimento dos professores de referência”.


Transbordamento
Nóvoa apresenta-nos várias interrogações: O que é que queremos da Escola? História ou educação para a cidadania? Literatura ou educação para a saúde? Ciência ou prevenção da toxicodependência? Matemática ou educação sexual? Artes ou prevenção rodoviária? Filosofia ou educação ambiental?

Geografia ou educação para os valores? E que dizer do desenvolvimento das competências comunicacionais e tecnológicas? E da preparação para a vida profissional? E da promoção do espírito de criatividade, de inovação e de empreendedorismo? E da formação moral? E da prevenção da delinquência? E do ensino das regras e comportamentos sociais? E da capacidade para enfrentar dificuldades e resolver problemas? Tudo isto?
Resumindo de maneira excessivamente simplista, afirma o autor, que a história da Escola no decurso do último século, pode-se dizer que foi desenvolvendo por acumulação de missões e de conteúdos, numa espécie de constante “transbordamento”, que a levou a assumir uma infinidade de tarefas. Hoje, diz Nóvoa, que o currículo escolar mais parece um saco no qual, década após década, tudo foi colocado e de onde nada foi retirado. A Escola está esmagada por um excesso de missões e pela impossibilidade de cumpri-las. Impõe-se, por isso, definir prioridades e dizer, com clareza, aquilo que queremos da Escola.
Se a modernidade escolar se definiu por transbordamento, é possível que a contemporaneidade da Escola se caracterize por um processo de retraimento. Afirma que esta “contenção” não nos deve fazer esquecer as aquisições da modernidade sobre a educação integral, a importância dos contextos sociais ou a autoformação, entre tantos outros temas que estão inscritos no nosso patrimônio pedagógico. Mas a Escola não pode tudo. E, por isso,segundo Nóvoa, parece imprescindível que ela se reencontre como organização centrada na aprendizagem, partilhando com outras instâncias um trabalho educativo mais amplo.


Organização do trabalho escolar e “Choque tecnológico”
Claparède, psicólogo suíço, defende uma Escola à medida de cada aluno. Então, Nóvoa deduz que “se a Escola por medida era importante um século atrás, ela é absolutamente imprescindível nos dias de hoje. A ideia de diferenciação é uma das mais antigas e, ao mesmo tempo, uma das menos concretizadas ideias da pedagogia. Impõe-se que trabalhemos todos numa perspectiva de construir práticas coerentes de trabalho, que deêm corpo às nossas intenções”.

Para Claparède, “a escola deveria preservar o período da infância, o que segundo ele,  em muitos casos, era encurtado e fases que deveriam ser respeitadas, deixavam de ser observadas. O autor fez uma crítica ao tipo de conhecimento desvinculado da vida, que,  segundo ele, logo eram esquecidos, e defendia que a educação deveria visar ao  desenvolvimento das funções intelectuais e morais.  Em sua obra Educação Funcional, citou que: “a escola deve ser ativa, isto é, mobilizar a atividade da criança, devendo ser mais um laboratório que um auditório”.
Nóvoa diz “estar absolutamente convencido de que a organização do trabalho escolar é a questão-chave nos dias de hoje. Neste sentido, algumas das medidas que o Ministério da Educação vem ensaiando são úteis e desejáveis”. “Mas elas só terão sucesso se  enquadrarem num desejável reforço da autonomia das escolas e contribuírem para construir uma nova profissionalidade docente”.
Com referência ao “choque tecnológico, Nóvoa afirma que, “hoje em dia, ninguém está preparado para trabalhar nesta “sociedade da informação”, com um volume absurdo de informação ao alcance de toda a gente e uma desatualização permanente dos conhecimentos”.
Como ele diz, “estamos perante uma mudança radical: “antes de começarmos a mudar a tecnologia, a reconstruir as escolas e a voltar a formar os professores necessitamos de uma pedagogia nova, baseada na interatividade, na personalização e no desenvolvimento de uma capacidade autônoma para aprender e para pensar”.


Mudança de atitudes: Possíveis soluções
Nóvoa é conclusivo quando diz que, “não há uma escola, há muitas escolas. Não há uma solução, há muitas soluções. É preciso reforçar as escolas, a sua autonomia, a sua liberdade de organização, a sua diversidade, a sua capacidade de responder às necessidades dos alunos e das comunidades locais. E, simultaneamente, é preciso que as escolas e os professores prestem contas do seu trabalho, que haja uma avaliação efetiva, que as escolas deixem de funcionar viradas para dentro. Não há nada que possa substituir um “bom professor”. A sociedade exige muito aos professores, mas, ao mesmo tempo, tende a tratá-los como “profissionais de segunda”, que não necessitam de grandes qualificações. Há necessidade de uma mudança de atitude, que talvez se possa sintetizar em dois pontos: por um lado, o reforço da autonomia das escolas e dos projetos locais de educação; por outro, a melhoria da qualificação e da profissionalidade docente.

“É urgentíssimo consolidar lideranças profissionais nas escolas, com base nos professores mais competentes e mais prestigiados, de forma a enquadrar os “menos capazes” e a definir práticas de avaliação do trabalho docente”.
Um exemplo prático de mudança de atitudes pode ser constatado pela Escola da Ponte, idealizada por José Pacheco que, “não é o primeiro - e nem será o último - a desejar uma escola que fuja do modelo tradicional. Ao contrário de muitos, no entanto, o educador português pode se orgulhar por ter transformado seu sonho em realidade. Há 28 anos ele coordena a Escola da Ponte. Apesar de fazer parte da rede pública portuguesa, a escola de ensino básico, localizada a 30 quilômetros da cidade do Porto, em nada se parece com as demais”.
“A Ponte não segue um sistema baseado em seriação ou ciclos e seus professores não são responsáveis por uma disciplina ou por uma turma específicas. As crianças e os adolescentes que lá estudam - muitos deles violentos, transferidos de outras instituições - definem quais são suas áreas de interesse e desenvolvem projetos de pesquisa, tanto em grupo como individuais”.  “A cada ano, as crianças e os jovens criam as regras de convivência que serão seguidas inclusive por educadores e familiares. É fácil prever que problemas de adaptação acontecem. Há professores que vão embora e alunos que estranham tanta liberdade. Nada, no entanto, que faça a equipe desanimar”. “O sistema tem se mostrado viável por pelo menos dois motivos: primeiro, porque os educadores estão abertos a mudanças; segundo, porque as famílias dos alunos apóiam e defendem a escola idealizada por Pacheco”. 
“São 180 alunos têm entre 5 e 17 anos e 29 educadores. Cerca de 50 (um quarto do total) dos alunos chegaram extremamente violentos, com diagnósticos psiquiátricos e psicológicos. As instituições de inserção social que acolhem crianças e jovens órfãos os encaminham para as escolas públicas. Normalmente eles acabam isolados no fundo da classe e, posteriormente, são encaminhados para nós. No primeiro dia, chegam dando pontapés, gritando, insultando, atirando pedras. Algum tempo depois desistem de ser maus, como dizem, e admitem uma das duas hipóteses: ser bom ou ser bom”. 
“Não há salas de aula, e sim lugares onde cada aluno procura pessoas, ferramentas e soluções, testa seus conhecimentos e convive com os outros. São os espaços educativos. Hoje, eles estão designados por área. Na humanística, por exemplo, estuda-se História e Geografia; no pavilhão das ciências fica o material sobre Matemática; e o central abriga a Educação Artística e a Tecnológica”. 
Pacheco diz que” a arquitetura da escola é antiga e sonha  um prédio com outro conceito de espaço. Temos, afirma ele,  uma maquete feita por 12 arquitetos, ex-alunos que conhecem bem a proposta da escola. Esse projeto inclui uma área que chama de centro da descoberta, onde diz, compartilharemos o que sabemos. Há também pequenos nichos hexagonais, destinados aos pequenos grupos e às tarefas individuais. Estão previstas ainda amplas avenidas e alguns cursos d'água, onde se possa mergulhar os pés para conversar, além de um lugar para cochilar. As novas tecnologias da informação devem estar espalhadas por todos os lados para ser democraticamente utilizadas pela comunidade, o que já conseguimos”. 
Informou Pacheco que “até 1976, a escola era igual a qualquer outra de 1ª a 4ª série. Cada professor ficava em sua sala, isolado com sua turma e seus métodos. Não havia comunicação ou projeto comum. O trabalho escolar era baseado na repetição de lições, na passividade. Naquele ano, havia três educadores e 90 estudantes. Em vez de cada docente adotar uma turma de 30, juntamos todos. Nosso objetivo era promover a autonomia e a solidariedade. Antes disso, porém, chamamos os pais, explicamos o nosso projeto e perguntamos o que pensavam sobre o assunto. Eles nos apoiaram e defendem o modelo até hoje”. 
Na Escola da Ponte aprende-se a ler em seis meses, a ser autônomo, ser um cidadão crítico e livre com responsabilidade e o ritmo de cada aluno é respeitado.
Os alunos da Escola da Ponte conseguiram os melhores resultados nas provas globais em Portugal.